Gestão estratégica do risco cambial blinda empresas da volatilidade

Tempo de leitura - 4 min

A exposição ao câmbio é um dos elementos mais críticos — e menos previsíveis — da gestão financeira de empresas de todos os portes e segmentos. Especialmente de companhias do middle market, em crescimento.

Em economias voláteis, como a nossa, a oscilação cambial pode afetar profundamente o fluxo de caixa, a margem operacional e a confiabilidade do planejamento financeiro. Por isso, o tratamento desse risco precisa ser técnico, contínuo e ancorado em boas práticas de governança.

O risco cambial está presente sempre que ativos, passivos, receitas ou despesas são denominados em moeda estrangeira. As formas mais comuns de exposição incluem:

  • Operações de comércio exterior: receitas de exportação e pagamentos de importação expõem a empresa à variação cambial no intervalo entre contratação e liquidação;
  • Endividamento em moeda estrangeira: contratos de crédito em moedas como USD ou EUR transferem parte do risco para o balanço da empresa, especialmente quando não há alinhamento com os fluxos operacionais;
  • Exposição financeira ou contratual: investimentos no exterior, contratos com reajuste cambial ou operações de hedge não casadas ao passivo ou ativo real.

Ignorar esse risco fragiliza o acesso ao capital futuro.

Hedge cambial: proteção técnica e estratégica

O hedge cambial é o principal instrumento de mitigação desse risco. Mais do que uma “proteção”, é uma ferramenta de construção de previsibilidade e eficiência financeira. Entre os instrumentos mais utilizados, destacam-se:

a. NDF (non-deliverable forward)

Contrato a termo sem entrega física da moeda. Ideal para empresas que precisam proteger fluxo de caixa de curto e médio prazos. A liquidação ocorre pela diferença entre a taxa contratada e a taxa de mercado no vencimento, trazendo previsibilidade de caixa.

b. Swap cambial

Permuta de indexadores entre moedas e taxas. Por exemplo, trocar a exposição em USD por CDI, ajustando o perfil de risco da dívida. Ferramenta relevante para empresas com passivos em moeda estrangeira e fluxo em reais.

c. Opções de câmbio

Oferecem proteção com flexibilidade. Compostas em estruturas como collar, seagull ou zero-cost, permitem limitar perdas sem abrir mão de potenciais ganhos, principalmente em operações com receita em moeda forte.

Esses derivativos podem ser combinados em estruturas personalizadas que equilibram custo, proteção e flexibilidade.

A importância da gestão ativa de risco cambial

A gestão passiva — travar o câmbio e “esperar” — é cada vez menos eficiente em mercados voláteis. Modelos modernos de hedge incluem:

  • Monitoramento dinâmico de mercado, com análise de taxa implícita, volatilidade e curvas futuras;
  • Realocação tática de proteções conforme mudanças nos fundamentos ou metas financeiras;
  • Uso de métricas de risco, como value at risk (VaR), stress testing e análise de sensibilidade para orientar decisões.

O hedge não é estático: ele deve ser ajustado ao ciclo de vida do passivo, à volatilidade do mercado e ao apetite de risco da empresa.

Crédito em moeda estrangeira e hedge dinâmico

Empresas que acessam crédito em moeda estrangeira, como via 4131, precisam integrar a estrutura de crédito à política de hedge. Não tem jeito. O custo efetivo da dívida está diretamente ligado à forma como o risco cambial é tratado. Uma estrutura bem montada reduz a incerteza e otimiza a alavancagem corporativa.

É essencial que a estruturação da dívida e o hedge cambial caminhem juntos desde a originação, evitando descasamentos e garantindo eficiência financeira.

Conclusão: proteção cambial é gestão, não reação

O risco cambial não pode ser terceirizado à sorte nem tratado como evento isolado. Ele precisa ser gerido com rigor técnico, visão estratégica e integração à governança financeira da empresa. Em um cenário globalizado, onde decisões cambiais impactam competitividade, a capacidade de lidar com volatilidade de forma técnica é um diferencial competitivo — e um imperativo de sobrevivência.